quarta-feira, 11 de agosto de 2010

história da anatomia

Anatomia, a pedra basilar das Ciências da Saúde


A Anatomia Humana é considerada a mais antiga área do conhecimento científico. Nos tempos pré-históricos, os primeiros feiticeiros tinham conhecimentos anatómicos que os demais homens não tinham. Por necessidade. Já se encontraram sinais da realização de trépanos, ou seja, de abordagens instrumentais ao interior da cavidade craniana, com mais de 20.000 anos. Nesses antigos tempos a Anatomia confundia-se com a Medicina. Os primeiros anatomistas e médicos foram os egípcios. Os Mesopotâmicos exaltaram os “conhecedores do corpo”, no código de Hamurabi. Mas foram os gregos que deram o maior avanço científico à Medicina e à Anatomia. Inicialmente com Asclépio, depois com os seus eméritos sucessores: Hipócrates, Aristóteles, Herófilo, Erasístrato, Celso, Rufus e Galeno.
Nesses tempos, o estudo do corpo humano era feito clandestinamente, porque a dissecação dos corpos era considerada profanação. Galeno, por exemplo, estudou os animais, extrapolando esses conhecimentos para o ser humano. Os seus erros foram aceites durante mais de 1400 anos. A enorme vivência com a Natureza prestou um importante subsídio para a nomenclatura anatómica, que se aproveitou da semelhança estrutural com plantas e outros animais. As antigas expressões “árvore bronquica” (arbor bronchialis) ou “árvore da vida” (arbor vitae) no cerebelo e no útero, são casos exemplares, como o é a mais recente denominação de “células-tronco” (stem cells) que foram dadas às células embrionárias primordiais de que tanto agora se fala.
Os primeiros verdadeiros anatomistas só surgiram com o Renascimento, quando houve autorização de reis e papas para se proceder à dissecção dos corpos humanos. As duas figuras mais importantes foram Leonardo da Vinci e Andreas Vesalius. As suas obras ainda hoje nos causam espanto. Os seus mais notáveis sucessores foram Realdo Colombo e Gabriele Fallopius Este último, sobretudo, trouxe inovação na metodologia de ensino, mostrando como se fazia uma dissecção e insistindo para que seus alunos também dissecassem. E, aos poucos, todos os territórios do corpo foram sendo conhecidos, mesmo os mais escondidos e misteriosos, como as estruturas nervosas do cérebro.
A Anatomia Humana moderna pode hoje em dia ser incluída numa área conceptualmente mais vasta – chamemos-lhe “Bio-Morfologia Humana” – que, para além da Anatomia tradicional, inclui áreas do conhecimento como a Citologia, a Histologia, a Embriologia e a Antropologia Física. O motor do extraordinário progresso da Bio-Morfologia deve-se ao trabalho conjunto de cientistas e técnicos. Na verdade, a importância da tecnologia no estudo anatómico não pode ser esquecido. É ela que tem produzido os extraordinários avanços que permitem que hoje também se possa falar em Anatomia Radiológica, Anatomia Ultraestrutural, e, até, em Anatomia Virtual.
Com os novos avanços das tecnologias imagiológicas tridimensionais, o mundo já começa a parecer demasiado pequeno para a Anatomia. Mas, o quotidiano de muitos profissionais de Saúde – cirurgiões, médicos, enfermeiros, técnicos de saúde, farmacêuticos, etc. – mostra que a Anatomia está sempre presente, de modo directo ou indirecto, de maneira dominante ou discreta. E o ensino da Anatomia continua a ser a pedra basilar da preparação dos profissionais da Saúde.

Nuno Monteiro Pereira



Coordenador de Anatomia Funcional

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